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O Trabalho Terapêutico: Ouvir o Que o Outro Entende

Foto do escritor: Vera Lúcia Belisário BaroniVera Lúcia Belisário Baroni

O trabalho terapêutico: ouvir o que o outro entende
O trabalho terapêutico

“A disciplina fundamental a que se deve ater o psicoterapeuta é perguntar-se constantemente não o que quer transmitir ou dizer a seu paciente, mas sim o que este irá entender”. (Edmond Gilliéron)


A psicoterapia é uma prática que vai muito além da transmissão de ideias e conhecimentos, e a afirmação de Gilliéron revela uma das bases mais importantes do trabalho terapêutico: a preocupação não com a fala em si, mas com o impacto que ela terá sobre o paciente.


Na relação terapêutica, o que importa não é apenas o que o terapeuta deseja comunicar, mas sim o que o paciente consegue absorver e transformar em compreensão. Cada indivíduo traz consigo uma bagagem única de experiências, traumas, crenças e expectativas, que acabam filtrando a maneira como ele percebe o mundo e, consequentemente, como ele escuta e interpreta as palavras do terapeuta.


A escuta ativa: mais do que ouvir, acolher

O psicoterapeuta precisa cultivar uma escuta que vai além das palavras ditas. É uma escuta sensível ao que não é verbalizado, ao que é sentido pelo paciente, ao que fica nas entrelinhas. Quando Gilliéron menciona que o terapeuta deve se perguntar o que o paciente entende, ele está apontando para a importância de sair da própria perspectiva e entrar no universo simbólico do paciente. Esse processo exige que o terapeuta esteja em constante estado de autoquestionamento, perguntando-se: "Será que o que eu estou dizendo faz sentido para ele? Como ele está processando isso?"


Essa postura demanda humildade. O terapeuta deve abrir mão da ideia de que ele detém a verdade ou de que suas palavras são necessariamente claras. Cada sessão é uma troca, um espaço de significação conjunta. Nesse cenário, o que conta não é a intenção de quem fala, mas a recepção e o efeito que as palavras produzem no outro.


O papel da subjetividade no entendimento

Na psicanálise, a subjetividade é um elemento central. Ela revela como o paciente organiza suas experiências, seus afetos e suas percepções. Cada palavra escutada pelo paciente atravessa sua história pessoal e ganha um sentido particular. Não se trata de uma comunicação objetiva, como a de um professor em sala de aula que expõe um conteúdo teórico, mas de um processo de ressignificação constante.


As interpretações, intervenções e até os silêncios do terapeuta adquirem múltiplos significados para o paciente. Um mesmo conselho ou reflexão pode ser entendido de maneiras completamente diferentes por dois pacientes distintos. É por isso que o terapeuta precisa estar em sintonia com a subjetividade de cada indivíduo, buscando sempre criar um diálogo que permita ao paciente se apropriar de suas próprias interpretações, e não simplesmente adotar as palavras do terapeuta como uma verdade.


O terapeuta como facilitador de compreensão

Gilliéron nos lembra de que o terapeuta não é um transmissor de verdades prontas. Ele é um facilitador de processos de compreensão. O paciente deve ser estimulado a fazer suas próprias elaborações e, para isso, é essencial que o terapeuta esteja atento ao modo como cada palavra ressoa.


Ao assumir essa postura, o terapeuta permite que o processo terapêutico seja uma experiência de autodescoberta e não de assimilação passiva. Ele incentiva o paciente a questionar, refletir e, eventualmente, integrar as interpretações que fazem sentido dentro de seu próprio contexto.


Conclusão

No trabalho psicoterapêutico, a escuta e a fala são duas faces de uma mesma moeda. Falar é importante, mas mais ainda é compreender como o outro escuta. Um terapeuta eficaz é aquele que se preocupa menos com o que quer dizer e mais com o que o paciente pode, de fato, entender. Assim, o encontro terapêutico se torna um espaço de construção conjunta, onde o paciente é acolhido em sua singularidade e onde, juntos, terapeuta e paciente criam novos sentidos para as questões trazidas.

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