top of page
Foto do escritorVera Lúcia Belisário Baroni

O Medo do Julgamento e da Rejeição

O medo do julgamento e da rejeição
O medo da rejeição

Muitas pessoas vivem suas vidas tentando agradar aos outros, presas a uma constante necessidade de aprovação e validação externa. Esse comportamento, embora pareça inofensivo, carrega em si um medo profundo: o medo do julgamento e da rejeição. Sob a ótica da psicanálise, essa busca incessante por aceitação revela aspectos inconscientes que remontam às primeiras experiências de vida.


As Raízes do Medo do julgamento e da Rejeição

Freud, o pai da psicanálise, já nos mostrou que o inconsciente é moldado pelas nossas primeiras relações, sobretudo com as figuras parentais. Nos primeiros anos de vida, a criança depende dos cuidados e da atenção dos pais para sobreviver e se desenvolver. A aceitação ou rejeição dessas figuras de autoridade molda a maneira como a criança se percebe no mundo.

Quando a criança sente que seu amor e cuidado dependem do quanto ela agrada aos pais ou cuidadores, desenvolve-se o que Freud chama de "Superego". O Superego é essa instância que julga, pune e estabelece padrões elevados de comportamento, muitas vezes inatingíveis. Dessa forma, o desejo de agradar aos outros pode ser entendido como um reflexo desse Superego severo, que impõe a busca por aprovação externa como uma forma de evitar o castigo ou a rejeição.


O Narcisismo e a Dependência da Validação

A psicanálise também nos ensina sobre o conceito de narcisismo. No estágio inicial, o bebê vê a si mesmo como o centro do mundo, onde tudo gira em torno de suas necessidades e desejos. No entanto, à medida que a criança cresce, ela começa a perceber a existência do outro e a importância da aprovação externa para manter o seu senso de valor.

Para muitos, essa dependência da validação externa pode se estender à vida adulta, como uma forma de proteger seu narcisismo fragilizado. Na tentativa de evitar o sentimento de inadequação ou rejeição, a pessoa passa a moldar suas ações de acordo com as expectativas dos outros, sacrificando muitas vezes sua própria autenticidade.


O Complexo de Inferioridade e a Autoestima

Adler, um dos seguidores de Freud, acrescenta à discussão o conceito de "complexo de inferioridade", que pode estar relacionado com essa necessidade de agradar. Pessoas que se sentem inferiores tendem a buscar a aceitação dos outros para se sentirem validadas. Esse sentimento de inadequação ou inferioridade pode ser fruto de experiências de rejeição na infância, seja no ambiente familiar, escolar ou social.

Para a psicanálise, a autoestima é um dos aspectos mais sensíveis na formação da personalidade, e quando a pessoa não encontra em si mesma o valor que procura, ela tende a buscá-lo nos outros. Assim, o medo do julgamento e da rejeição se manifesta como uma tentativa de preservar uma autoestima já fragilizada.


O Círculo Vicioso de Agradar e o Sofrimento Psíquico

A necessidade de agradar pode se transformar em um ciclo vicioso. Ao tentar constantemente agradar, a pessoa se desconecta de suas próprias necessidades e desejos, vivendo em função das expectativas alheias. Isso, inevitavelmente, gera frustração, ressentimento e, muitas vezes, depressão, já que a pessoa nunca consegue alcançar a satisfação plena.

Em termos psicanalíticos, essa busca incessante por aprovação pode ser entendida como uma forma de evitar o "desamparo", cujo conceito está ligado à sensação de vulnerabilidade e exposição diante do outro. Ao agradar, a pessoa tenta evitar esse estado de desamparo, buscando o controle sobre a forma como é vista e julgada pelos outros.


O Caminho da Autenticidade: A Análise do Eu

A psicanálise propõe que o processo de análise pode ajudar o indivíduo a se libertar dessa compulsão de agradar os outros. Ao trazer à consciência os desejos inconscientes e os medos que os guiam, a pessoa pode começar a se reconectar com seus próprios valores, desejos e necessidades.

O trabalho terapêutico busca fortalecer o "Eu" (Ego), permitindo que o indivíduo tolere melhor o risco do julgamento e da rejeição, sem que isso interfira em sua autoestima. O objetivo é que a pessoa possa viver de maneira mais autêntica, sem a necessidade constante de se moldar às expectativas alheias.


Conclusão

A necessidade de agradar os outros é um fenômeno complexo, enraizado em nossos primeiros anos de vida e alimentado por aspectos inconscientes que nos acompanham até a vida adulta. Sob o viés psicanalítico, podemos entender que o medo do julgamento e da rejeição está intimamente ligado à formação do Superego, ao narcisismo e às questões de autoestima.

O processo terapêutico psicanalítico oferece uma oportunidade de explorar esses aspectos, possibilitando que o indivíduo se liberte dessa prisão psíquica e encontre um caminho mais autêntico, onde agradar aos outros não seja uma necessidade constante, mas uma escolha consciente e saudável.

Posts recentes

Ver tudo

Comments


bottom of page