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Foto do escritorVera Lúcia Belisário Baroni

Distorção de Imagem: Corpo e Mente em Conflito


"A distorção da imagem corporal é a expressão de uma profunda perturbação no sentimento de identidade e valor próprio." (Hilde Bruch)


Distorção de imagem: quando o corpo e a mente estão em conflito
Distorção de imagem

Nos últimos anos, temos visto um aumento significativo de jovens e adolescentes lutando com a sua imagem corporal. Redes sociais, padrões de beleza inatingíveis e a pressão por um corpo "perfeito" têm contribuído para uma percepção distorcida do próprio corpo. Mas, o que está por trás dessa distorção?


Sob a ótica da psicanálise, a questão vai além da simples aparência física. Ela nos leva a mergulhar nas profundezas da mente e explorar como cada um constrói sua imagem corporal ao longo da vida. Na prática clínica, entendemos que essa distorção é, em muitos casos, uma manifestação de conflitos inconscientes. A forma como nos vemos está diretamente ligada às nossas experiências emocionais, principalmente aquelas dos primeiros anos de vida, que envolvem a relação com nossos pais e, subsequentemente, com a sociedade ao nosso redor.


Na psicanálise, especialmente nas teorias de Melanie Klein e Donald Winnicott, o período mais primitivo da vida da criança é crucial para a formação da psique. A relação inicial entre mãe e bebê, mediada pelo corpo, pelo aleitamento e pelo contato físico, é fundamental para a construção da identidade do bebê. Se a amamentação é vivenciada pela mãe com frustração ou resistência, a criança pode, por exemplo, sentir uma certa rejeição ou não conseguir integrar adequadamente a experiência de satisfação e acolhimento. Isso pode levar a uma dificuldade futura em construir uma imagem corporal positiva, pois o corpo pode ser, simbolicamente, o espaço onde essas primeiras frustrações e inseguranças foram sentidas.


Além desse aspecto, o olhar dos outros — sejam pais ou cuidadores, amigos ou até mesmo ídolos — influencia a forma como enxergamos nosso corpo. Se, por exemplo, um jovem cresce em um ambiente onde há cobranças excessivas sobre aparência ou desempenho, ele pode internalizar essas expectativas e passar a se ver de maneira negativa, mesmo que seu corpo não corresponda a essa visão distorcida. Esse processo é inconsciente, ou seja, o jovem pode não perceber que está reproduzindo um ideal que não é seu.


Na psicanálise, trabalhamos com o conceito de narcisismo, que nos ajuda a entender melhor essa questão. Quando alguém sente que seu corpo não é "bom o bastante", pode estar tentando preencher uma falta, uma sensação de inadequação que vai muito além da aparência. O corpo se torna um campo de batalha para lidar com emoções e desejos não resolvidos.


A prática clínica psicanalítica com jovens que sofrem de distorção de imagem envolve explorar esses sentimentos de inadequação e os significados profundos que o corpo carrega. Na terapia, buscamos criar um espaço seguro onde o paciente possa falar livremente sobre seus medos e ansiedades. Aos poucos, ele pode entender de onde vêm essas percepções distorcidas e como elas se relacionam com experiências passadas e com o modo como ele se vê no mundo.


É importante lembrar que a psicanálise não foca apenas no alívio dos sintomas. O objetivo é ir além, ajudando o jovem a descobrir os conflitos emocionais que sustentam essa percepção distorcida. Ao trazer esses conflitos à tona, é possível que ele passe a olhar para si mesmo de forma mais acolhedora, compreendendo que a sua imagem corporal está mais relacionada com questões internas do que com um padrão externo idealizado.


Enfrentar a distorção de imagem não é fácil, especialmente em um mundo que constantemente nos bombardeia com expectativas irreais. Mas, ao buscar ajuda e explorar o que está por trás dessa insatisfação, é possível encontrar um caminho para se sentir mais à vontade no próprio corpo — e, acima de tudo, mais em paz consigo mesmo.

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