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Foto do escritorVera Lúcia Belisário Baroni

A Psicanálise e o Dia de Finados: o trabalho do luto


“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós enquanto vivemos.” (Norman Cousins)


A frase de Norman Cousins nos faz refletir sobre nossas perdas reais e simbólicas, que podem nos tirar o prazer pela vida e por nossas próprias realizações, quando não são devidamente tratadas num processo necessário de luto. Sobre essa questão, a psicanálise nos ensina que o luto envolve todas as perdas que experimentamos ao longo da vida, não se limitando, portanto, apenas à morte física daqueles a quem amamos. Nesse sentido, Melanie Klein ressalta a importância da nossa relação com o objeto perdido, que pode ser tanto um ente querido quanto um aspecto importante da nossa vida.


O trabalho do luto, segundo a psicanálise, envolve a elaboração das emoções e dos conflitos internos que surgem a partir de nossas perdas objetais. Esse processo pode ser muito difícil e doloroso, mas é fundamental para que possamos seguir em frente e retomar nossas vidas. Alguns mecanismos de defesa podem surgir durante o luto, tais como a negação, a raiva e a depressão.


Embora esses mecanismos de defesa não sigam uma ordem linear, podendo ocorrer de forma intercalada, a negação da realidade é, muitas vezes, uma reação inicial ao luto. Pode ser difícil aceitar a perda, e a mente pode negar temporariamente a realidade, em um esforço de autopreservação. Esse mecanismo proporciona uma pausa, permitindo-nos processar a informação da perda gradualmente.


A raiva é uma emoção poderosa que pode emergir durante o luto. É comum sentir raiva em relação à perda, à injustiça da situação ou até mesmo em relação à própria pessoa que partiu. Essa expressão de raiva, muitas vezes, serve como uma válvula de escape para o sofrimento acumulado.


A depressão, no luto, é uma resposta emocional à perda. Sentimentos de tristeza profunda, desânimo e isolamento são comuns, mas, apesar disso, este é um estágio crucial para começarmos a confrontar a magnitude da perda.


Reconhecer e compreender esses mecanismos de defesa é importante tanto para quem enfrenta o processo de luto quanto para quem oferece ajuda nessa travessia, pois permite a construção de uma base mais sólida para o processo de superação. Também os rituais fúnebres, quando perdemos entes queridos, ajudam nesse processo de superação, pois proporcionam um espaço coletivo para a expressão da dor. Reunir familiares e amigos no funeral cria um ambiente que valida e compartilha o peso emocional da perda. O ato de chorar, compartilhar histórias e abraçar, no contexto ritualístico, oferece conforto e conexão. Nesse mesmo viés, o Dia de Finados, marcado por homenagens e lembranças, também oferece um momento único para explorar a experiência do luto.


Enquanto a psicanálise oferece um espaço para uma jornada interna de busca por compreensão profunda das camadas emocionais que permeiam o luto, a celebração do Dia de Finados também pode ser vista como uma jornada interna, uma oportunidade para elaborar as emoções e os conflitos que surgem a partir da perda.


“O luto é um processo complexo que demanda a elaboração de perdas para a reconstrução do eu.” (Freud)


Freud argumentava que o luto é um trabalho psíquico, uma tarefa árdua que exige enfrentamento das dores e a reconstrução de significados. De maneira semelhante, o Dia de Finados convida à reflexão sobre o papel do ritual na elaboração do luto. As visitas aos túmulos, o acendimento de velas e momentos de silêncio não apenas homenageiam os falecidos, mas também oferecem uma oportunidade para a expressão simbólica das emoções.


Concluindo, a psicanálise tem muito a contribuir para o entendimento do luto e da morte, temas que estão presentes no Dia de Finados. O trabalho do luto é fundamental para que possamos elaborar as emoções e os conflitos que surgem a partir da perda, e o Dia de Finados, assim como o processo psicanalítico, pode ser uma oportunidade para elaborarmos nossas emoções através das homenagens aos nossos entes queridos que já faleceram.



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